terça-feira, 19 de julho de 2011

O OLEIRO E O MENDIGO
Num dia frio de um inverno rigoroso, soprava um vento balançando as copas das poucas árvores existentes que sobraram do machado usado pela mão implacável do homem, cujo instinto é destruir a natureza criada por Deus, não pensando nos danos que esses atos virão a causar para levar o homem a sua própria destruição.
Debaixo duma das poucas árvores ainda existentes, encontrava-se um homem, e essa árvore dava o pouco abrigo que lhe era possível dar a aquele que havia destruído impiedosamente a quase toda a sua espécie.
Estava ali uma das árvores que sobraram, dando abrigo a aquele que destruiu impiedosamente parte da natureza que Deus havia criado para sobrevivência do homem.
O homem, maltrapilho, sedento e faminto, entregue a sua própria sorte, sua cabeça apoiada nas raízes da árvore, em seu corpo já se faziam presentes os primeiros sinais da morte.
O chacal já se aproximando para devorar o pouco que dele ainda restava.
Abrindo as pálpebras de seus olhos, viu como um delírio o sol em seu nascente espalhando seus raios aquecendo as pontas de uma grama maltratada pela intempérie.
Ao longe visualizou um vulto se aproximando, mas já não tinha mais forças para distinguir do que se tratava, continuando com seu corpo inerte, mas em sua mente ainda restava um pouco de raciocínio que lhe fez acreditar que eram animais carnívoros vindo para devorá-lo.
O vulto não era nenhum animal, mas sim um homem que estava de passagem, ao ver a situação do homem encostou sua cabeça em seu peito notou que embora seu corpo estivesse frio, seu coração ainda estava batendo.
Levantou sua cabeça encostando cuidadosamente seu corpo ao corpo do moribundo, aquecendo-o,
Tirou de dentro dum odre que consigo trazia, o qual estava cheio de mel, abrindo cuidadosamente a boca, do homem a que queria salvar, gotejando nela desse mel,
Com seu corpo já aquecido, e sentindo o efeito do mel, começou a reanimar-se, olhou com espanto, só então vendo que aquele que ele vira ao longe era um homem que tentava ajuda-lo.
Os dois se entreolharam, e seus olhos se encheram de lágrimas, e em seus semblantes formaram-se grandes sorrisos; secaram-se as lágrimas, e um brilho inexplicável tomou conta de seus olhares, passando eles a conversar como se fossem velhos amigos.
O homem que deu assistência ao moribundo perguntou-lhe o que lhe havia acontecido para chegar a tal estado de abandono. O mendigo passou a contar a sua história de vida:
Amigo. Tudo o que vês e mais onde tua visão não alcança, eu recebi por herança, tudo estava coberto por matas verdejantes, havia córregos de águas cristalinas que hoje não existem mais, mas com a destruição da mata os mesmos secaram, e tudo está prestes a se tornar num deserto sem vida. Talvez se outros não tivessem destruído, essas árvores ainda serviriam para as aves migratórias descansarem, e depois de seu vigor refeito, continuar sua jornada para lugares ainda não destruídos pelo homem.
Meu amigo! Nestas imensas planícies onde hoje só existem restos de grama seca pastavam meus milhares de bovinos, caprinos e ovinos.
Nas encostas daquela montanha construí a minha casa e meus seleiros, grandes mangueiras onde recolhia minhas vacas leiteiras que davam o seu leite para alimentar a todos que trabalhavam nessa imensa fazenda.
Nada me faltava: eu tinha uma mulher e dez filhos e filhas, que eu muito amava e que igualmente me amavam. Vivia abastadamente, sem jamais pensar que tudo aquilo um dia poderia acabar.
Nos tempos em que levava essa vida abastada, tinha inumeráveis amigos, que a todo fim de tarde se reuniam na sede de minha fazenda, banqueteavam-se, jamais faltando alimento, chegando a meia noite todos se retiravam voltando no dia seguinte, assim eu e meus trabalhadores nos tornamos ociosos e junto aos visitantes perdíamos o raciocínio e as reuniões já não tinham mais fim pois também eram regadas abundantemente por bebidas fortes, e todos se embriagavam perdendo todo censo de equilíbrio, a imoralidade e a falta de respeito levavam a atos abomináveis; e assim meus bens foram se dilapidando, e todos meus amigos me deram as costas desaparecendo, e quando encontrava com algum deles, o mesmo fazia de conta que não me conhecia.
Mergulhado no vício da bebida não tinha mais discernimento de meus atos, entrando num desgosto profundo, passando a ser o carrasco daqueles que ainda não havia me abandonado. Meus rebanhos desapareceram, e eu mergulhado no ócio e com meus neurônios destruídos pelo efeito da bebida, não sei o que com eles aconteceu.
Estavam comigo: minha mulher, o grande amor de minha mocidade, que dedicou toda sua vida ao bem estar da Familia que havíamos constituído, lembro-me de quantas vezes a trai em tudo aquilo que onde existe o verdadeiro amor não pode ser feito; vem-me também a memória todas as vezes que me encontrou embriagado caído nas sarjetas, levando-me para dentro de casa com a ajuda dos filhos, lavando-me e trocando minhas roupas sujas, e às vezes molhadas, colocando-me na cama, deitando-se ao meu lado aquecendo meu corpo maltratado pelas intempéries noturnas.
Amigo a pior parte de minha história ainda falta contar: Numa certa noite, embriagado e caído na sarjeta, amanheci vendo o meu estado deplorável, com muita dificuldade de me locomover adentrei a casa e não encontrei mais minha familia, pois a mesma não suportando mais minhas atitudes insanas abandonaram a casa e desapareceram, e nunca mais deram notícias.
Neste momento num pequeno momento de lucidez entendi que nada mais tinha, e saí a caminhar sem rumo por essa planície, procurando a morte e até agora não a encontrei.
Amigo! Eu não te conheço, mas quero agradecer tudo o que fizeste para me livrar da morte, mas peço-te que agora sigas em tua jornada e deixe-me encontrar a morte, pois só ela pode me proporcionar a libertação de todo mal que fiz em minha vida.

Até agora somente tu falaste, e me contaste toda tua vida sem saber quem sou.
Eu também sou um vivente perambulando por essa terra, também tenho uma história que iniciou bem antes de você existir.
Tenho uma profissão e tenho um objetivo a alcançar.
Estou a procura de um barro que tem que ser da melhor qualidade, pois quero fabricar um vaso que não tenha nenhum defeito, pois o quero para meu próprio uso, sou rigoroso e extremamente cuidadoso naquilo que me pertence.
Estou a procura do barro para fabricação desse vaso, está num pântano existente dentro desta fazenda, e tenho que encontra-lo, e preciso de alguém, não para ajudar no trabalho da fabricação, mas para vigiar enquanto eu trabalho cuidando que nem as aves do céu, nem os animais silvestres venham a contaminá-lo e assim torna-lo inviável para meu trabalho.
Não tenho dinheiro para pagar um ajudante, e vendo você ocioso faminto e sedento, não quero deixar-te entregue a tua própria sorte, pois se não morreres logo virão os chacais, e terminarão dando fim a tua vida e dilacerarão aquilo que de ti ainda resta.
Levanta-te e tenha bom animo, esqueça do teu passado, das coisas que já tiveste, pois eu cuidarei do teu futuro.
Eu tenho uma oferta para te fazer!
Você me acompanha e segue minhas orientações na vigilância impresindivel na jornada de meu trabalho, e no término do mesmo tu terás como recompensa uma morada de muito mais valor do que todos os bens que dilapidaste,
Tu me acompanharás durante todo meu trabalho, porém jamais te será permitido colocar tuas mãos na fabricação deste vaso, pois se o fizeres ele quebrará, e todo trabalho terá sido em vão.
Minhas mãos são habilidosas, e tudo que faço é com muito amor e carinho, não importa o tempo que levo no trabalho, importa sim a perfeição daquilo em que trabalho.
Não te preocupes, pois só eu sei o tempo que tenho para dar término ao trabalho.
A ti darei uma espada que não colocarás na bainha, mas a conservarás empunhada, e ficarás pronto para lutares contra qualquer ser que se aproximar de meu território.
Haverá dia e noite, chuva e sol, mas não sentirás fadiga, pois eu proporcionarei tudo o que for necessário para não esmoreceres. Não te acomodes, nem durmas, pois é impresindivel toda vigilância para que o projeto que tenho possa se complementar.

A moldagem do vaso está pronta, e vejo que o trabalho está perfeito.
Eis que é chegado a hora de coloca-lo no forno, que já se acha aquecido, com a temperatura compatível, e só eu sei o momento de tira-lo do forno, e que possa usa-lo para satisfazer o meu desejo. Não te é permitido ajudar tira-lo, porque se o fizeres todo serviço terá sido em vão, pois todo possesso é de minha incumbência, e se colocares tua mão o calor te consumirá, pois para isso tenho força e poder.

Agora o colocarei no lugar que para ele tenho determinado e o encherei de terra devidamente preparada, e na medida adequada, e nele plantarei flores que se manterão vivas para sempre. Suas flores nunca murcharão e darão o néctar para que as abelhas venham produzir mel que servirá para alimento, e que aqueles que dele se alimentarem viverão para sempre.

Olhando eu para um ramo de uma frondosa árvore, nele vi uma grande colméia de abelhas que mostravam bastante inquietas.
Neste momento o oleiro mostrou que ele não era somente um oleiro, pois pegou ferramenta que tinha a seu alcance, e fabricou uma caixa para abrigar a colméia.
Ao termino da fabricação da caixa as abelhas passaram a rodeá-la, entraram diligentemente na mesma, formando grupos, porém não parecia ter comando entre elas, e cada grupo iniciou um trabalho.
O primeiro grupo saiu e foi diretamente às flores do vaso do oleiro sugando o néctar das flores, e quanto mais sugava mais néctar flores produziam, as abelhas iam e vinham sem parar.
Os dois grupos que ficaram dentro da caixa se dividiram um grupo separando a cera do mel fazendo pequenos casulos. Outro grupo preenchia os mesmos com o mel ali separado, outro grupo ficou rodeando a caixa aglomerando-se mais a entrada da caixa, essa eram as guerreiras que impediam bravamente a entrada da caixa contra invasão de formigas e outros insetos que poderiam contaminar e roubar o mel que ali era produzido para outro destino.

O oleiro mostrando sua capacidade fez também o trabalho de carpinteiro, tornando-se também um apicultor, porque sem toda essa seqüência de trabalho seu trabalho não seria completo. Podemos subentender que tudo que ele faz é perfeito, podemos também entender o porquê de ele não querer que o homem a que ele salvara, e contratara, por as mãos no trabalho por ele iniciado, pois sabia ele que o trabalho não teria a mesma perfeição que ele queria que tivesse, pois só sua obra é perfeita, e qualquer intermediação de outrem poderia pôr a perder tudo que estava em seu projeto. Pois só ele poderia ser o arquiteto e construtor, e nenhum detalhe poderia ser observado com seu olhar de arquiteto e construtor, e, de suas mãos abeis de artífice e mestre.

Na seqüência, o mel já produzido, ele me chamou e ordenou que eu fosse, e reuniram-se todos os que estavam ociosos e famintos, para virem se alimentar do mel que estava ali para que todos os que quisessem se alimentassem.
Depois que todos estavam fortalecidos, entregou a cada, um favo de mel, e os mandou pelos vales e campinas dando mel a todos que o aceitassem. E continuassem a distribuí-lo até o dia que ele voltasse, e encontrando todos que antes famintos, estivessem seus semblantes lindos, e seus corpos vigorosos, e assim levariam todos ao seu domínio, e que ali eles passariam a morar para todo sempre,

Resumo: Esta história é: Deus é o oleiro único e perfeito, e nós somos os vasos que ele faz com toda perfeição, e não permite que nenhum homem tente fazer o vaso, porque a obra de Deus é perfeita, e na obra do homem não há perfeição em nada que ele faz, a partir do momento que Deus o destituiu do paraíso, pela desobediência. Temos que sermos moldados e queimados para termos a resistência suficiente para sermos usados para cumprimento de seu projeto.
Podemos estar certos que Deus não quer nos dar a incumbência de moldarmos outros vasos, pois já nosé mostrado acima que a fabricação só a ele pertence, visto sermos todos barro. e para nos tornarmos vasos temos que passar pela mão do oleiro, e assim nos tornarmos úteis para que venha a se cumprir a execução do projeto criado por Deus na eternidade; AMEM.

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